terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A vida que ninguém vê

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

a estação que eu não vi
















Nesta última sexta, enquanto eu voltava do trabalho para casa, ele encontraria os amigos num bar. Raja, sua fiel companheira, o guiaria até a Rua Augusta.

André tem 24 anos, é casado, formado em ciências sociais, mestrando em ciências políticas pela USP. E cego. Não fosse essa última condição, passaria invisível por mim na catraca do metrô Vila Madalena.

Se ele pudesse me ver, talvez eu não o tivesse seguido pela escada rolante, pela plataforma, pelo vagão. Sentei ao lado dele e não resisti:

- Morde?, perguntei, já esticando a mão no focinho da labradora chocolate.
- Não. Mas você não deve acariciar um cão-guia quando ele está a trabalho.
- Não sabia...
- Tudo bem. É que eles não podem se distrair.

Raja, 2 anos e 7 meses, precisou de um mês de treinamento para ser os olhos de André. Hoje, acompanha todos os seus passos. Ficamos ali, conversando, e esqueci das estações. Sequer ouvi o alarme das portas e o anúncio do funcionário do metrô.

- A estação que passamos agora foi a Consolação?, ele quis saber.
- Não sei, André. Eu não vi.

Ele achou engraçado.

- Não VIU? Como você diz isso para um cego?

Estava certo: havíamos chegado na Trianon-Masp.
E eu não vi porque, de fato, ver parecia quase insignificante diante da superação dele.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

De nariz vermelho


O curioso é que eu não lembro delas. Da foto, da menina.
Por isso fiquei surpresa ao encontrá-las, assim que girei a chave, sobre a mesa de casa.
Havia pedido a minha mãe que separasse fotografias de quando eu era criança. Preciso repassá-las à comissão de formatura, que irá colocá-las num telão durante a festa.
Então as duas estavam lá, fazendo graça com a minha memória fraca.
Diante da "palhacice" da situação, do batom vermelho borrado, dos olhinhos apertados de alegria, das xuquinhas tortas (alinhadas à franjinha, torta)... o stress do trabalho ficou do outro lado da porta.
Olhar para si mesmo, de vez em quando, pode ser uma experiência divertida.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

gota d'água

gota a gota, a me irritar enquanto escrevo, enquanto janto, enquanto deito pra ver tv, enquanto tento não pensar em nada. gota e mais outra gota. abstraio. só até o barulho gotejar no meu ouvido novamente. quero que essa marcação do tempo pare. já abandonei o relógio por isso. mas... nada. aperto o registro, fecho a porta, aumento o som. e ainda sinto que aquela água continua se esvaindo fora do meu controle. estou cansada. comprei uma revista há uma semana e só tive tempo de analisar a capa. duas bitucas de cigarro jogadas por um vizinho na minha varanda já estão quase camufladas no piso. minha planta morreu de sede. e há tanta gota desperdiçada.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Dores desnecessárias


"Não, Nathalia. Essa dor não é normal. Ela é sinal de que você ultrapassou seus limites", disse, colocando o dedo na ferida sem cerimônias. Saí da yoga com um calombo no ombro direito e uma fisgada atrás da coxa esquerda. Mas aquela resposta é que ficou latejando em mim o dia inteiro. Eu poderia jurar, na melhor das intenções, que era preciso sentir dor nos exercícios para alcançar uma espécie de patamar do além que me libertaria dela. Ou, no mínimo, pra que eu tivesse certeza (física) do meu esforço pelo perfeccionismo. E, não, eu não alcancei o movimento perfeito nem entrei em transe depois de intenso sacrifício. Só pensava quantos comprimidos de dorflex seriam necessários para que eu voltasse a andar sem franzir a testa. Fui conversar com a professora, crente que ela me recomendaria algum outro chá relaxante e diria que isso faz parte do processo de aprendizagem. E ela me vem com essa. Acrescenta, aliás: "seus limites precisam ser respeitados. cada um tem seu tempo. talvez essa dor signifique que você se cobra demais. e que na ânsia de se entregar por inteiro, você não percebe até onde pode ir sem se machucar". Tomei nota. Quando será que aprendo?