domingo, 15 de fevereiro de 2009

a estação que eu não vi
















Nesta última sexta, enquanto eu voltava do trabalho para casa, ele encontraria os amigos num bar. Raja, sua fiel companheira, o guiaria até a Rua Augusta.

André tem 24 anos, é casado, formado em ciências sociais, mestrando em ciências políticas pela USP. E cego. Não fosse essa última condição, passaria invisível por mim na catraca do metrô Vila Madalena.

Se ele pudesse me ver, talvez eu não o tivesse seguido pela escada rolante, pela plataforma, pelo vagão. Sentei ao lado dele e não resisti:

- Morde?, perguntei, já esticando a mão no focinho da labradora chocolate.
- Não. Mas você não deve acariciar um cão-guia quando ele está a trabalho.
- Não sabia...
- Tudo bem. É que eles não podem se distrair.

Raja, 2 anos e 7 meses, precisou de um mês de treinamento para ser os olhos de André. Hoje, acompanha todos os seus passos. Ficamos ali, conversando, e esqueci das estações. Sequer ouvi o alarme das portas e o anúncio do funcionário do metrô.

- A estação que passamos agora foi a Consolação?, ele quis saber.
- Não sei, André. Eu não vi.

Ele achou engraçado.

- Não VIU? Como você diz isso para um cego?

Estava certo: havíamos chegado na Trianon-Masp.
E eu não vi porque, de fato, ver parecia quase insignificante diante da superação dele.

2 comentários:

Anônimo disse...

é isso que te faz jornalista...uma curiosidade saudável por aquilo que pra tantos passa quase desapercebido...um olhar tão interessado que fica cego pra todo o resto em volta...
amomuito:)

Anderson Santiago disse...

que lindo!