sexta-feira, 27 de março de 2009

A maior covardia

Quero fugir de mim mesma. Dá?

domingo, 22 de março de 2009

Das provas mais difíceis

Ontem foi meu baile de formatura. Voltei pra casa pensando que certamente perderei o contato com 90% daqueles que fizeram parte da minha rotina nos últimos 4 anos. Vou ficar realmente triste por pelo menos 10%...

A faculdade me aplicou provas dificílimas. Não as de teoria da comunicação, metodologia científica ou planejamento gráfico. Para essas, tinha cola.

Queria Cásper. Tive que lidar com uma frustração e tanto. E, para minha surpresa, em uma semana não conseguia me imaginar naquele prédio da Paulista. O bosque da Metô era muito mais interessante.

Queria morar sozinha. Tive que lidar com uma saudade imensa de Santos, dos amigos, da família. Com o feijão que queimava, com as contas que esquecia de pagar, com os conflitos Brasil X Argentina.

Queria me identificar. Tive que lidar com gente completamente diferente: alternativos, cocotas, maníacos por futebol, nerds... E não é que, de alguma forma, a troca foi positiva. Levo alguns bons amigos e lembranças boas.

Queria ficar solteira. Tive que lidar com um sentimento que extrapolava qualquer casinho besta. Alguém que namorava, que nem me dava tanta trela, que era tudo que eu nunca quis pra mim. E era incrível mesmo assim.

Queria liberdade. Tive que lidar com uma convivência deliciosa no início, mas potencialmente estressante. Espaços que pareciam menores quando compartilhados todo santo dia. Graças à paciência e ao respeito, não nos sufocaram por inteiro.

De tudo, eu ainda não sei o que fica, o que vai, o que parecerá nunca ter acontecido. Mas é bom saber que, de um jeito ou de outro, aconteceu. Que apesar de todos os deslizes, inseguranças e surtos... eu fui aprovada.

domingo, 15 de março de 2009

Interseção


Vinícius de Morais disse que "a vida é a arte do encontro". E não é que, quando descobri a frase, ela calhou de ser assim... uma ironia afiada?


Eu encontrei Gabriel e Vera porque os dois, muito antes, lá em 1941, se descobriram vizinhos em Belo Horizonte e cismaram de continuar encontrando um ao outro. E porque os encontros foram tão maiores que os desencontros, o casal está prestes a completar bodas de diamante. A filha mais velha deles decidiu fazer uma surpresa e contratar um jornalista para escrever um livro sobre essa história que mais parece ficção. Ela encontrou o Camilo, das pessoas mais lindas que já encontrei, e me convidou para o projeto. Quando toda essa gente e essa oportunidade de aprendizado me encontraram, fui eu que me encontrei desconfiada. Como podia? Preencher páginas sobre um amor que eu nem acreditava possível enquanto meus pais colocavam um ponto final diante do juiz? Dois casais se encontravam diante de mim: um brigando pelo direito de se separar, outro pelo direito de ficar junto além da vida. Tive que encarar. Não encontrei solução melhor.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Carta sobre a mudança

Caro novo inquilino,

vou sacodir as cortinas, esvaziar os armários, encaixotar memórias e te entregar a chave. Que a sua individualidade exija menos metro quadrado. Que andar de lado na cozinha e tomar banho sem abrir os braços não te incomodem tanto. Que a falta de ar circulando e luz natural não deixem sua rotina com cheiro de guardado. Que o vizinho de cima compre um cinzeiro e pare de decorar a tua varanda. Que o da frente faça sexo sem gemer tão alto.

Tive bons momentos por aqui, acredite. A gente se adapta às circunstâncias. Ah, desculpe a poeira acumulada no carpete. Desisti dela com o tempo - ou com a falta dele. Pode varrer todos os vestígios. Eu tenho mesmo que me mudar: preciso de espaço. E espero me redimensionar com ele. Sorte que lá existem muitas janelas. A vida pede essa arejada.

Atenciosamente,

Ex-inquilina dos 35 metros quadrados

Pauteiros da vida

Jornalista formada.

Abaixo, a homenagem que fiz aos pais na colação de grau.
Lindo ver o orgulho de todos eles. De pé no salão, num silêncio absoluto. Quis advinhar o que passaram com seus filhos até aquele momento...

"Seus filhos agora são oficialmente jornalistas. Mas o mérito dessa notícia não é só nosso, não. Vocês foram bons pauteiros. A pauta, nessa profissão, é o ponto de partida que orienta como uma reportagem que deve ser feita, que mostra ao repórter o que ele encontrará pela frente, que estimula a enxergar um acontecimento sob vários aspectos. É uma função às vezes chata porque trabalhosa e injustamente pouco valorizada. Ainda que não entendam esse conceito que aprendemos no inicio da faculdade, vocês formularam nossas pautas desde sempre. Foi assim quando escolheram nossa primeira escolinha, quando elogiaram um desenho tosco, quando disseram "não" à alguma malcriação, quando ficaram apertados para pagar a mensalidade, quando abriram mão dos próprios sonhos em benefício dos nossos.

Pauteiros dedicados 24 horas ao ofício que tanto amam, vocês passaram os recursos e as informações essenciais para que nós pudéssemos construir as nossas histórias. Sei que alguns de vocês se cobram, se culpam. Gostariam de ter proporcionado mais, ter mimado menos, ter acompanhado mais de perto ou dado mais autonomia. Mas... ainda bem que na vida e nas redações não existem fórmulas. Ainda bem que vocês ficaram em dúvida, que erraram... A pauta não pode vir toda pronta: há quem diga que repórter (pra ser bom) tem que sujar sapato, suar a camisa, aprender sozinho, passar por apuros. Pra se dar conta da própria capacidade. E até mesmo do que não é capaz de fazer sozinho. Porque a verdade, cá entre nós, é que nem sempre demos aos pauteiros o crédito merecido. A gente emplaca a reportagem, ganha manchete, recebe elogios... e esquece (ou ignora) quem deu todo o suporte para o sucesso.

É por isso que eu estou aqui. Pra dizer que hoje estamos comemorando não apenas a nossa conquista. Foi um longo trabalho em equipe, que começou antes mesmo do tempo em que precisávamos de uma mão nos ensinando a segurar o lápis. Se nos formamos agora como jornalistas, é porque vocês nos formaram para a vida. Uma faculdade diária, em tempo integral, sem direito a férias. Talvez por isso muitos de vocês pensem como esses quatro anos voaram. Claro, vocês estão há uns 20 anos vendo esse amadurecimento!

Então, a vocês, pais por natureza, por opção e amor, não bastaria um muito obrigado. Pela dignidade com que nos educaram, pelo amor incondicional, pelos esforços imensuráveis. Vocês que suportaram nosso mau-humor depois de virar a madrugada fazendo trabalhos de última hora, que acordaram mais cedo para nos dar carona, que compreenderam os plantões nos finais de semana e as angústias de quem quase desistiu desse diploma: muitíssimo obrigado é bem pouco. A todos que morreram de saudade dos filhos longe de casa, que ofereceram colo por telefone e enviaram energias positivas, todo o nosso reconhecimento.

Nós também estamos orgulhosos. Essa conquista é de vocês".

segunda-feira, 2 de março de 2009

despedidas não se adiam

- É câncer, filha. Não tem mais jeito, não. Pode demorar um dia, duas semanas ou três meses. Dificilmente passará disso.

Meu pai me avisou. Disse, nas entrelinhas, que seria bom encontrar um tempinho para me despedir do meu terceiro avô. Casado com a minha avó paterna desde que me lembro por gente, o Waldô era homem caipira, do tipo que "vai a cidade" uma vez por dia buscar jornal, pão e alguma coisa para distrair as crianças: papel de pipa, bala, lápis de cor... Desconfio que nos amava mesmo, em toda sua simplicidade.

Internado há cerca de um mês no Hospital do Câncer, dez minutos de carro da minha casa, foi vendo a vida se esvair. Lúcido. Que dor maior pode existir? A mulher companheira ao lado, os filhos, os netos, tudo acontecendo pela televisão... e falta ar para dizer o quanto gostaria de ficar.

Decidi que na quarta iria vê-lo. Não fui: perdi a hora e precisava correr para o trabalho. Tudo bem, ele pode esperar. Marquei de ir na quinta: o exame médico atrasou. Tudo bem, custava nada esperar até amanhã. Vou na sexta: preguiça de pegar o metrô. Ah, vejo ele depois do carnaval. No sábado, fui viajar para Angra dos Reis. Dessa vez, enquanto eu estava na estrada, Waldô precisou ir. E foi.

Soube da morte dele na quarta-feira de cinzas. Não quiseram me contar. Faço um esforço para lembrar quando foi a última vez que o vi, na esperança de que talvez eu tenha sido mais gentil, mais carinhosa, mais agradecida. Fui, não. Vi o Waldô pela última vez após a meia-noite do último dia de 2008. Dói pensar que talvez nunca mais o veja. Agora me pergunto como pude justificar a minha falta de tempo a alguém que não o tinha mais?