segunda-feira, 2 de março de 2009

despedidas não se adiam

- É câncer, filha. Não tem mais jeito, não. Pode demorar um dia, duas semanas ou três meses. Dificilmente passará disso.

Meu pai me avisou. Disse, nas entrelinhas, que seria bom encontrar um tempinho para me despedir do meu terceiro avô. Casado com a minha avó paterna desde que me lembro por gente, o Waldô era homem caipira, do tipo que "vai a cidade" uma vez por dia buscar jornal, pão e alguma coisa para distrair as crianças: papel de pipa, bala, lápis de cor... Desconfio que nos amava mesmo, em toda sua simplicidade.

Internado há cerca de um mês no Hospital do Câncer, dez minutos de carro da minha casa, foi vendo a vida se esvair. Lúcido. Que dor maior pode existir? A mulher companheira ao lado, os filhos, os netos, tudo acontecendo pela televisão... e falta ar para dizer o quanto gostaria de ficar.

Decidi que na quarta iria vê-lo. Não fui: perdi a hora e precisava correr para o trabalho. Tudo bem, ele pode esperar. Marquei de ir na quinta: o exame médico atrasou. Tudo bem, custava nada esperar até amanhã. Vou na sexta: preguiça de pegar o metrô. Ah, vejo ele depois do carnaval. No sábado, fui viajar para Angra dos Reis. Dessa vez, enquanto eu estava na estrada, Waldô precisou ir. E foi.

Soube da morte dele na quarta-feira de cinzas. Não quiseram me contar. Faço um esforço para lembrar quando foi a última vez que o vi, na esperança de que talvez eu tenha sido mais gentil, mais carinhosa, mais agradecida. Fui, não. Vi o Waldô pela última vez após a meia-noite do último dia de 2008. Dói pensar que talvez nunca mais o veja. Agora me pergunto como pude justificar a minha falta de tempo a alguém que não o tinha mais?

6 comentários:

Marina Gurgel disse...

Ai Nathy..
é triste te dizer que eu te entendo. Eu também passei por isso com a minha bisavó e é algo que eu não consigo me perdoar. Mas ela mora no meu coração e nnao sai do meu pensamento e, se em algum lugar ela souber disso, é isso que importa.

Anônimo disse...

te entendo,filha, porque senti o mesmo embora fossem outros os meus "motivos"...
mas lembrando da pessoa simples e profundamente amorosa e boa que ele sempre foi, tenho a certeza de que ele sabe do nosso imenso afeto, construído e alimentado durante anos de convívio familiar.
amomuito

Anderson Santiago disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anderson Santiago disse...

O maior desgostinho de viver: ter de se despedir, se separar - e lidar com esse fato em nossa mais honesta impotência.

Triste, sempre muito triste.

Rach disse...

a gente nunca acha que o outro não tem mais tempo.

sexy-welsch disse...

linette atriz pornô hoje é 16/08/2013 depois de muito tempo estou aqui para falar pessoalmente...não achei que fosse para na internet minha entrevista a uma repórter ...Só as achei que aos quarentas não ganharia nem para o sal grosso mas me enganei, o nome linette me trouxe muitas coisa .... minha filha já se formou a outra esta estudando;o meu filho também estuda.Minha família é maravilhosa meus filhos não me discriminam ..Tenho sorte.O dinheiro não compra tudo mas é importante para se ter uma vida digna.ja fiz150filmes a maioria internacionais...Um dia se encontrarem a filha da linette fazendo programa é por opção não por necessidade financeira,ainda não posso parar quero morrer e deixar meus filhos formados eles me dão motivos para continuar...não importa o que falem de mim ..tenho meus motivos ....beijos e até a próxima vez ass linette