terça-feira, 28 de abril de 2009

Manual (sujeito a alterações indefinidamente)

Aja com naturalidade se eu gritar, chorar e depois pedir colo. Se acontecer de novo, me olhe nos olhos e berre. O mais alto que conseguir.
Detesto bagunça. Mas desarruma minha cama, não lava a louça, larga tua meia desvirada no corredor.
Adoro que você fique. Então levanta e vai embora de vez em quando, deixa a falta ocupar teu lugar na cama.
Dispenso pizza de frango com catupiry. Faz com que eu coma ao menos um pedaço.
Vou te achar horrível de amarelo. Apareça um dia assim vestido apenas para eu ter certeza. Ou me surpreenda.
Direi coisas grosseiras e impulsivas. Nem sempre compreenda: mande à merda e me ignore.
Quero ter o controle. Não se engane: é só para você tirá-lo de mim.
Contrarie, desafie, desconfie, cutuque...
Desse rebuliço que eu preciso.
Para sossegar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Como derreter corações (em um minuto e meio)

Porque eu dei a minha risada mais gostosa ao ver esse vídeo.



"And anytime you feel the pain hey jude refrain
dont carry the world upon your shoulders"

sábado, 18 de abril de 2009

Um bom domingo à tarde






.bel.e.o.meu.dedão.do.pé.pintado.
.nossa.infinita.preguiça.
...

Felicidade: a nossa e a do outro

Este texto me foi encaminhado por uma amiga. Pelo que entendi, é de autoria da jornalista Débora Bresser, do Jornal da Tarde. Achei verdadeiro: a gente teima em jogar a responsabilidade da nossa felicidade no outro - e se responsabiliza pela dele também. Vejam se concordam.

- Você vai me fazer feliz?

- Não, não vou. Não sou deus, nem prozac. Sou só um ser humano tentando desgraçadamente ser feliz. Vou fazer o possível para que você seja feliz a meu lado tanto quanto isso puder ser compatível com a minha própria felicidade. Mas não, não vou fazer nada além disso. Até porque, não há nada a ser feito acerca da your private own felicidade.
A sua felicidade é sua mesmo: é você quem faz todo dia, um pouquinho, com dor, com dificuldade, superando os seus monstros, as suas limitações, mudando o que dá pra ser mudado, aceitando e justificando condizentemente o que não dá, rezando, se psicanalisando, correndo, comendo chocolate, meditando, crescendo, sofrendo, perdendo, ganhando, ficando melhor do jeito que você consegue.
Dá um trabalho doido e é solitário, é difícil. Ser feliz não é para qualquer um, não. É bom que se diga. Muito mais fácil é pedir ao outro que nos faça feliz. Fazê-lo prometer e jurar que vai cumprir e chorar porque o coitado não deu conta do recado – que, frise-se – é impossível mesmo. A felicidade (a sua, a minha, a nossa) é um processo de cada um e não sou eu que vai te fazer feliz, assim como você não me fez, não me faz, nem me fará. Eu sou feliz quando estou com você porque aqui no meu processo você faz parte da minha felicidade. Somos um cada um e pode ser que lá pelas tantas a minha felicidade já não caminhe a seu lado, que eu já não seja mais aquilo que você precisa/quer para ser parte da sua vida feliz ou vice-versa.
Pode ser que o que você precise para ser feliz seja achar alguém que pense ser possível ser responsável pela sua felicidade e que lhe prometa isso, por mais impossível que isso seja. Contudo, o que eu posso lhe prometer é tão somente ser sua cúmplice, co-autora e partícipe, mas jamais responsável. Sei que a cada dia que eu te olhar e te ver feliz, vou me sentir parte disso e me orgulhar. Mas se eu tiver que caminhar com o peso de uma responsabilidade impossível, vou me fazer infeliz. Estarei aqui, sim, enquanto tu também fizeres parte da minha felicidade. Para enfrentar os monstros, sim. Para estar triste, também. Para chorar contigo quando der vontade, para te ajudar em tudo que estiver a meu alcance. Mas só enquanto isso for felicidade, pra ti e pra mim.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O escafandrista e a minha falta de ar

Tenho tido tanta urgência de mergulhar na vida que esqueço o tubo de oxigênio. Talvez por isso meu bisavô escafandrista venha aparecendo nos meus sonhos. Como se quisesse dizer que o ar uma hora acaba - e é preciso recuar. Não conheci esse homem que, ainda muito jovem, meteu-se num navio na Polônia e foi viver oceano adentro. Oceano a fundo. Tivesse oportunidade, teria feito muitas perguntas a ele (que disso eu entendo). Ousaria saber se no silêncio de todas as coisas a gente escuta melhor. Se ele tinha mais medo do perigo lá embaixo ou do tédio em terra firme. Se era possível ter bravura sem deixar de ser doce. Esse homem de olhos claros e pose de galã sorri pra mim dos retratos em preto e branco. Eternos nos corredores da minha avó, sua filha. É ela quem me conta que esse Teodor doido por desbravar as profundezas do mundo atracou no Brasil de Conceição. O rapaz, fora d'água, perdeu o fôlego pela soteropolitana. Por ter perdido o fôlego, lançou a âncora e por ali ficou. Deixou a noiva canadense a ver navios. Deixou os pais e os irmãos a olhar pra sempre o horizonte quando a saudade apertasse. Avisou por carta, em palavras doloridas e congestionadas de consoantes, que havia se apaixonado. E isso era mais que suficiente. Teodor e Conceição se amaram por um bom tempo sem falar a mesma língua: entendiam o que o outro queria dizer. Juntos, tiveram três filhos. E netos e bisnetos (geração na qual me incluo). Hoje, gostaria ainda de lhe pedir emprestados o escafandro e o pé de pato. Pra mergulhar mais fundo, pra decorar cada uma das formas e das cores, apesar dos riscos. Quando o ar tiver acabado e me deixado zonza, talvez eu perceba a importância de voltar à superfície.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

O dia em que me apaixonei por Seu Lourival

Eu amo o que faço, principalmente, pela oportunidade de conhecer pessoas como ele. Ser jornalista me permite bater na porta dessas vidas sem parecer uma doida curiosa, cheia de perguntas. E, muitas vezes, confesso, esqueço que a visita é a trabalho. Me encanto e me apego aos personagens, o que já virou motivo de chacota lá na redação da Época SP. Tudo começou com um anão motoboy que entrevistei e de quem falei semanas a fio. Mas essa é uma outra história.
Agora estou apaixonada por Seu Lourival. E foi amor à primeira lida.
Fui pautada para escrever uma pequena matéria sobre a Cooperifa, um movimento cultural criado pelo poeta Sérgio Vaz na periferia de São Paulo. Num boteco de quebrada localizado entre os bairros mais perigosos da cidade (Capão Redondo, Jardim Ângela e Piraporinha), pertinho de um cemitério em que 80% dos "moradores" foi assassinado, se recita poesia. Gente que, de cerveja em punho e pratão de toicinho e mandioca cozida na mesa, esquece o futebol e a novela na televisão. Que toda quarta-feira, às nove da noite, se aglomera em um silêncio sagrado pra ouvir POESIA de todo tipo. São cerca de duzentas pessoas - entre poetas e ouvintes respeitosos. Enquanto alguém recita uma dor de corno, um amor impossível, um desabafo de cunho social ou uma doidera qualquer, não há espaço para risos debochados e vaias. Há quem traga seus versos decorados, quem recorra a uma leitura sofrível no papel de pão, quem interprete cada palavra com alma de ator. Seja como for, a plateia incha as mãos de tanto aplaudir. Vi choro, arrepio, perplexidade, torcida. E me vi assim logo que o desajeitado Seu Lourival se postou diante do microfone. Baiano de Riacho de Santana, esse homem de 70 anos é a pérola da Cooperifa. É um poeta anarquista, sem saber que o é. Na poesia dele, rimas nem sempre são necessárias e erros de português não são crimes. Até porque, tivesse ele estudado além da quarta série, não seria desse jeito. Desde pequeno, Seu Lourival achava bonito quando ouvia repentistas no Nordeste. Aquelas palavras ajustadas a acontecer, de tempo em tempo, com sons parecidos. "E não é que de rima em rima, virei poeta, moça?", ele me avisa, pra que sua conquista não passe despercebida. Casado há 43 anos, o vigia aposentado confessa que gosta mesmo é de escrever coisas românticas. Pra mulher, Seu Lourival? "Ah, ela não liga muito, não. Mas aqui na Cooperifa a mulherada me chama de garanhão", e ri, todo safado. Meio atrapalhado e muito humilde, ele não consegue se expressar na velocidade das ideias. Tropeça nas palavras, engole raciocínios, pede calma pra pensar. Ralhado em casa e por desconhecidos, não desistiu de expressar seus sentimentos. É sábio porque escuta o coração.

Aqui, o poema que declamou no dia em que o conheci. Quis colocar exatamente do jeito que ele escreveu. Seu Lourival, é com você:


"Primeiro ti conheci despois vei amizade
Mais agora eu confeço que ti amo de verdade
Atravecei o riu Paraná num pedaço de barbante
Arisquei a minha vida por uma simpri estudante

Si eu fosse o seu professor, eu sentia emoçãu
Mais eu sou apaichonado e vou dar meu coraçãu
Eu queria que chuvesse uma chuva bem fininha
Pra molhar a sua cama pra você dormir na minha

Ela mim deu um beijo que meu corpo estremeceu
Despois de nove messe um lindo bebê nasceu
Ela mim pediu nãu beijar no portãu
Porque seu pai é cego mais os seus vizinhos nãu é cegos nãu

Eu nãu quer te perder porque minha vida fica em sofrimentos
Isto porque eu ti amo loucamente
Si eu governasse os seus olhos, eu queria que fosse assim fechado
Para abrir só para mim

Seus olhos de plata, seus lábios de porcelana
Eu beijei uma vez e sentir feliz uma semana
No cofre do pençamento eu tranquei minha paichãu
A chave da felicidade foi cair em minha mãu

Quem querer saber meu nome, dar uma volta no jardim
Pois o meu nome está escrito numa folha de alegrim
Gestaine em francês, ylôve em ynglês
Si vocês nãu intendeu
Eu ti amo em português".