sexta-feira, 10 de abril de 2009

O escafandrista e a minha falta de ar

Tenho tido tanta urgência de mergulhar na vida que esqueço o tubo de oxigênio. Talvez por isso meu bisavô escafandrista venha aparecendo nos meus sonhos. Como se quisesse dizer que o ar uma hora acaba - e é preciso recuar. Não conheci esse homem que, ainda muito jovem, meteu-se num navio na Polônia e foi viver oceano adentro. Oceano a fundo. Tivesse oportunidade, teria feito muitas perguntas a ele (que disso eu entendo). Ousaria saber se no silêncio de todas as coisas a gente escuta melhor. Se ele tinha mais medo do perigo lá embaixo ou do tédio em terra firme. Se era possível ter bravura sem deixar de ser doce. Esse homem de olhos claros e pose de galã sorri pra mim dos retratos em preto e branco. Eternos nos corredores da minha avó, sua filha. É ela quem me conta que esse Teodor doido por desbravar as profundezas do mundo atracou no Brasil de Conceição. O rapaz, fora d'água, perdeu o fôlego pela soteropolitana. Por ter perdido o fôlego, lançou a âncora e por ali ficou. Deixou a noiva canadense a ver navios. Deixou os pais e os irmãos a olhar pra sempre o horizonte quando a saudade apertasse. Avisou por carta, em palavras doloridas e congestionadas de consoantes, que havia se apaixonado. E isso era mais que suficiente. Teodor e Conceição se amaram por um bom tempo sem falar a mesma língua: entendiam o que o outro queria dizer. Juntos, tiveram três filhos. E netos e bisnetos (geração na qual me incluo). Hoje, gostaria ainda de lhe pedir emprestados o escafandro e o pé de pato. Pra mergulhar mais fundo, pra decorar cada uma das formas e das cores, apesar dos riscos. Quando o ar tiver acabado e me deixado zonza, talvez eu perceba a importância de voltar à superfície.

3 comentários:

Carla disse...

estamos todas, eu, tata e giuliana, muito emocionadas...seu talento com as palavras falando de uma pessoa que amamos e admiramos tanto...só poderia trazer lágrimas de emoção.
a tata lembrou de uma reportagem de página inteira no jornal a tribuna lá pros idos de 1968, que ela tem guardada e prometeu nos mostrar, falando sobre este homem excepcional e de uma simplicidade comovente; ele disse que se perguntassem sobre a moda dos modernos maios de 2 peças nas praias brasileiras ele não saberia dizer nada, mas se quizessem saber sobre cada conchinha no fundo do mar, das catedrais de corais, das cores, ele saberia descrever por horas...
de todas as pessoas que eu amei e que me amaram nesta vida, ele foi o mais intenso e mais profundo. até hoje seu abraço protetor e sua voz a me chamar de pipoquinha enternecem meu coração, confortam minhas dores e acalentam minha alma.
obrigada por essa homenagem tão linda, tenho certeza de que ele está tão feliz qto eu...
te amo muito

Mazica disse...

foda.
aguardo pelo livro com dedicatória na minha estante uhahuahuahua
amo!
bjos

Calil disse...

Nossa... eu fico puto como vc escreve bem! Quando você voltar a superfície, que tal tomarmos um picolé na areia? Com um pouco de sorte, terá um por do sol como cenário.
Bjão