quinta-feira, 5 de março de 2009

Pauteiros da vida

Jornalista formada.

Abaixo, a homenagem que fiz aos pais na colação de grau.
Lindo ver o orgulho de todos eles. De pé no salão, num silêncio absoluto. Quis advinhar o que passaram com seus filhos até aquele momento...

"Seus filhos agora são oficialmente jornalistas. Mas o mérito dessa notícia não é só nosso, não. Vocês foram bons pauteiros. A pauta, nessa profissão, é o ponto de partida que orienta como uma reportagem que deve ser feita, que mostra ao repórter o que ele encontrará pela frente, que estimula a enxergar um acontecimento sob vários aspectos. É uma função às vezes chata porque trabalhosa e injustamente pouco valorizada. Ainda que não entendam esse conceito que aprendemos no inicio da faculdade, vocês formularam nossas pautas desde sempre. Foi assim quando escolheram nossa primeira escolinha, quando elogiaram um desenho tosco, quando disseram "não" à alguma malcriação, quando ficaram apertados para pagar a mensalidade, quando abriram mão dos próprios sonhos em benefício dos nossos.

Pauteiros dedicados 24 horas ao ofício que tanto amam, vocês passaram os recursos e as informações essenciais para que nós pudéssemos construir as nossas histórias. Sei que alguns de vocês se cobram, se culpam. Gostariam de ter proporcionado mais, ter mimado menos, ter acompanhado mais de perto ou dado mais autonomia. Mas... ainda bem que na vida e nas redações não existem fórmulas. Ainda bem que vocês ficaram em dúvida, que erraram... A pauta não pode vir toda pronta: há quem diga que repórter (pra ser bom) tem que sujar sapato, suar a camisa, aprender sozinho, passar por apuros. Pra se dar conta da própria capacidade. E até mesmo do que não é capaz de fazer sozinho. Porque a verdade, cá entre nós, é que nem sempre demos aos pauteiros o crédito merecido. A gente emplaca a reportagem, ganha manchete, recebe elogios... e esquece (ou ignora) quem deu todo o suporte para o sucesso.

É por isso que eu estou aqui. Pra dizer que hoje estamos comemorando não apenas a nossa conquista. Foi um longo trabalho em equipe, que começou antes mesmo do tempo em que precisávamos de uma mão nos ensinando a segurar o lápis. Se nos formamos agora como jornalistas, é porque vocês nos formaram para a vida. Uma faculdade diária, em tempo integral, sem direito a férias. Talvez por isso muitos de vocês pensem como esses quatro anos voaram. Claro, vocês estão há uns 20 anos vendo esse amadurecimento!

Então, a vocês, pais por natureza, por opção e amor, não bastaria um muito obrigado. Pela dignidade com que nos educaram, pelo amor incondicional, pelos esforços imensuráveis. Vocês que suportaram nosso mau-humor depois de virar a madrugada fazendo trabalhos de última hora, que acordaram mais cedo para nos dar carona, que compreenderam os plantões nos finais de semana e as angústias de quem quase desistiu desse diploma: muitíssimo obrigado é bem pouco. A todos que morreram de saudade dos filhos longe de casa, que ofereceram colo por telefone e enviaram energias positivas, todo o nosso reconhecimento.

Nós também estamos orgulhosos. Essa conquista é de vocês".

6 comentários:

Anônimo disse...

Que lindo, Nath. Nunca havia pensado nos pais como pauteiros. Excelente imagem. Ainda bem que, a partir das pautas, cabe aos repórteres (e aos filhos) desenvolver a reportagem. Somos nós que apuramos as histórias, as digerimos sob o nosso prisma e transformamos tudo em um único produto, que muitos chamam de "matéria". Poderíamos chamar de vida? Parabéns pela colação. E, mais uma vez, bem-vinda.

Rach disse...

disse no msn e faço público: não vou te desejar sucesso, vc está fadada a ele.
amo.

Mari Desimone disse...

Meu Nathy, muitos parabéns pelo seu texto, tá do caralho, amiga.

Gosto demais das suas palavras e do jeito que você trabalha com elas! Obrigada pelo texto, foi lindo demaiiis!

Anônimo disse...

Foi uma emoção indescritível, estar lá de pé, absolutamente encantada com as suas palavras, com a sua voz clara e firme, viajando pelas imagens gravadas não só na memória, mas sobretudo no coração...desde o instante do parto em que pude descobrir um ser determinado a agarrar a vida em suas mãos( empurrando os pezinhos na minha barriga) até esse instante em que como eu, centenas de pessoas se emocionaram, viajando através das suas palavras pelas suas próprias lembranças.
Tá certo, fomos pauteiros sim. Mas voce, filha, construiu uma grande, profunda e linda reportagem, que já ganhou manchete e a transformou numa admirada e reconhecida "contadora de histórias".
A Rach tem toda razão, vc está fadada ao sucesso.
Te amo minha jornalista !!

Dafne Sampaio disse...

beijo grande, nat.
parabéns

Anônimo disse...

mamae inovou no comentario..
a historia dos pés empurrando a barriga nunca tinha sido contada... ¬¬