quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Miudezas

Esses dias você se esgueirou nos lençóis e fugiu dos meus braços sem me despertar. Não vi, mas sei que se arrastou até o banheiro, tomou aquele banho quente demorado e fez a barba de cima para baixo. É por isso que ela cresce logo, amor - avisei milhares de vezes. Enrolado na toalha, na ponta do pé, você deve ter atravessado o quarto para pegar sua roupa meticulosamente dobrada, separada na noite anterior. Senti seu beijo quente bem abaixo da orelha, passando o nariz no meu rosto sonolento, e quis dizer o quanto estava plena por te ter perto de novo. Tá frio, não esquece o casaco - foi o que deu pra balbuciar. Você sorriu, como sempre. Afundei naquele edredon que nos faz esquecer o alarme - a vida fora do nosso universo macio. Minutos depois, encontrei sua calça de pijama largada de última hora. E, nela, meus imensos fios de cabelo. Lembrei das reclamações: não sei como eles alcançam esse lugares, vivem se enroscando em mim! Escancarei cortina e janelas para a luz entrar. Lá estava outro detalhe. O travesseiro ao lado amassado no formato da sua cabeça. Sabe, preto, o tempo e o amor redimensionam miudezas.

"a vida leva e traz / a vida faz e refaz"

2 comentários:

Marina Gurgel disse...

Nathy!!!
Me apaixonei pelo seu texto!!!
Que saudades de sentir isso, que eu fiquei!!!
Beijão

Mari Desimone disse...

chorei!