quarta-feira, 5 de agosto de 2009

No teu escuro, me ensina a tatear

Silvia Valentini não é cega. Convive apenas com a miopia, sem saber precisar quantos são os graus que desembaçam qualquer imagem à distância: "deve fazer uns seis anos que não troco estes óculos". Queria ter dito a essa artista plástica que abandonasse o par de lentes pendurados sobre o nariz. Parecem lhe servir apenas como acessório, tamanha a clareza da sua visão de mundo e seu foco no outro. Silvia é idealizadora do Boletim Ponto a Ponto, um periódico mensal que compila reportagens de jornais e revistas transcritos em braille. O calhamaço de páginas brancas e totalmente pontilhadas leva conhecimento a deficientes visuais e surdocegos, que tem pouquíssimo material atualizado disponível para leitura. Assim, milhares de pessoas têm compreendido melhor o que acontece no mundo que também lhes pertence. Descobrem, encantados, o que é o tal do pré-sal, como funciona um vulcão ou que forma possui um carrapato. Escrevi sobre o projeto na edição de setembro da revista Época SP, em breve nas bancas. Foi através dela que conheci Sandra Taioli Cassares, outra mulher de abraçar a alma.



Era quinta-feira de feriado quando toquei a campainha do apartamento dessa assistente social aposentada. "Oi, querida, pode entrar", convidou, estendendo a mão e me puxando para um abraço. Não podia ter me guiado melhor naquela situação. Muitas vezes, ajo feito quem tateia no escuro diante de portadores de alguma deficiência: espero ela me tocar ou não? vou na frente ou sigo?

Percebi que Sandra conversava comigo bem perto, como se quisesse enxergar com outros sentidos a minha altura, o jeito como eu gesticulava, a minha expressão de jovem repórter. Não tenho ideia se percebeu o quanto me surpreendi com uma bobagem: a casa era absolutamente arrumadinha, normal, com tudo combinando. Sofás, mesinha de centro, televisão, samambaia pendurada sobre a janela. Através dela, vi o céu da Mooca feito um tapete azul. "Obrigada por me receberem nessa manhã de feriado ensolarado", comentei. "Está sol, é? Que beleza!", respondeu o marido, me cumprimentando. A luz refletida nas paredes era só o breu costumeiro para o simpático casal. O que eles vêem é uma sensação de calor. Fechei os olhos para marcar a minha estupidez distraída.

Mas eles sequer ligaram. Andavam de um lado para outro com passos precisos, como se calculassem mentalmente a metragem da poltrona para o corredor. Talvez vejam alguns vultos e silhuetas, pensei. Nada. Sandra nasceu cega; Ronaldo ficou aos vinte anos. Ela, que foi alfabetizada em braille, surgiu com uma Reglete (régua com cavidades que formam palavras ao serem perfuradas por uma ponteira de aço). Ponto por ponto, numa habilidade invejável, escreveu meu nome completo. E tudo o que eu consegui ver foram montinhos em relevo, que não me diziam absolutamente nada, mas me encantaram os dedos. A professora segurou minha mão e tentou ensinar o beabá.

"Você pode buscar um Boletim e ler pra mim?", abusei. Afundei mais de uma hora naquele sofá com estampas irmãs das que moravam na sala da minha bisavó. Ao meu lado, com as páginas no colo, Sandra empunhava o indicador e lia as matérias que eu havia lido semanas antes no Estadão, na Veja... E que se transformaram em novidade naquelas formas miúdas. No momento em que ouvi o outro me contar o que eu não podia decifrar sozinha. Sem perder o hábito acadêmico, ela me pediu para encontrar o número de uma página qualquer. Explicou o formato dele em braille, mas logo desisti do desafio. E imaginei os dois folheando em uma enorme banca de jornais e revistas: sem um tradutor vidente por perto, as palavras e as imagens são inalcançáveis.

"Preciso ir embora!", me despedi, na esperança de que me botassem em algum canto só para observar suas rotinas. Tive vergonha de explicar que demoro para conceber certas superações. Ronaldo saltou da porta ao elevador e, certeiro, apertou o botão para mim. Disfarcei, mas não resisti a uma última olhada nos olhos dele. "Não é possível, Deus. Esse homem deve estar me vendo". Do jeito convencional, não estava, não. Mas tenho cá minhas desconfianças: como as aparências não lhes dizem nada, eles devem enxergar além.

4 comentários:

Carla disse...

que lindo!! esses bastidores do seu ofício de repórter deveriam ter um alcance maior...eles mostram muito além da matéria jornalística, amplos demais para o formato convencional.
teamobjos

Camilo Vannuchi disse...

Acabei de me lembrar de uma ocasião em que entrevistei um deficiente visual, dono de um cão-guia. Antes de me despedir, comentei com ele:
- Seu cachorro é muito bonito.
E ele:
- Também acho!
Depois de tudo isso, ainda tem gente que ousa dizer que as pessoas que não vêem são cegas. Pode?

Anônimo disse...

Eu tenho vivido com esta doença mortal por mais de um ano, o meu marido, descobri que estávamos ambos HIV +. Tínhamos tentar de todas as maneiras de viver nossas vidas, apesar desta coisa em nosso corpo não até que me deparei com este poderoso herbalista que interpretou que ele tinha a cure.At primeiro, ficamos mais cético, mas meu marido insistiu em dar-lhe uma tentativa e pedimos para algumas de suas ervas e em poucas semanas depois de seguir o devido processo desta fitoterapeuta, fomos para um teste de como ele nos disse também fomos surpreendidos com a felicidade quando recebi o resultado na clínica. A taxa de vírus em nosso corpo caiu e em mais algumas semanas Estávamos totalmente cured.We também perguntou por que ele não veio para o mundo que ele tinha a cura e ele disse que fez em 2011, mas foi rejeitada pela equipe de pesquisa internacional. A coisa mais importante é para você ser curado Se você quer saber sobre o fitoterapeuta chamá-lo em +234 706 542 4920 ou e-mail: herbalcure4u@gmail.com. Deus te abençoe.

Julia Franklin disse...

Portanto, é possível que a doença do HIV possa ser curada porque fui enganada tantas vezes até que me deparei com esse grande homem, Dr. Akhigbe, que me ajudou a princípio, nunca acreditei em todo esse comentário e postei sobre ele e fiquei muito doente porque sofri estiver infectado com HIV / AIDS nos últimos dois anos, apenas nos últimos dois meses eu continuo lendo o testemunho sobre esse homem chamado Dr. Akhigbe, eles disseram que o homem é tão poderoso que ele curou diferentes tipos de doenças, eu continuo monitorando seu post de algumas pessoas sobre esse homem e eu descobri que ele era real, então decidi fazer um teste. Entrei em contato com ele para pedir ajuda e ele disse que me ajudaria a obter minha cura. Tudo o que eu precisava era enviar dinheiro para ele se preparar o medicamento após o qual ele será enviado a mim através dos serviços de entrega da DHL, o que eu fiz para minha maior surpresa, ele me deu instruções para seguir como beber, depois de três semanas eu deveria fazer um check-up, depois de tomar o medicamento e seguir Como ele foi instruído após três semanas, voltei ao hospital para outro teste; no começo, fiquei chocado quando o médico me disse que eu era negativo; peço ao médico que verifique novamente e o resultado ainda era o mesmo negativo que era como do VÍRUS DO HIV, após o choque, eu decidi vir e compartilhar meu próprio testemunho com você para aqueles que pensam que não há cura para o VÍRUS HIV, a cura, como finalmente sair, pare de duvidar e entre em contato com o Dr. Akhigbe via e-mail drrealakhigbe@gmail.com Ele também é perfeito para curar DIABÉTICOS, HERPES, HIV / AIDS, ALS, CÂNCER, HEPATITE AEB, ASMA, DOENÇA CARDÍACA, DOENÇA CRÔNICA. Náusea, vômito ou diarréia, doença renal, picada de aranha, lúpus, infecção externa, resfriado comum, dor nas articulações, epilepsia, acidente vascular cerebral, doença de estômago. ECZEMA, COMENDO O TRANSTORNO etc, acredite em mim que a doença mortal não é mais uma sentença mortal porque o dr akhigbe tem a cura. O padrinho da raiz das ervas.
email: drrealakhigbe@gmail.com número whatsapp. 2348142454860 site: https://drrealakhigbe.weebly.com